sexta-feira, 29 de abril de 2016

História de criança adotada com a microcefalia

Maria Vitória nasceu no fim de setembro do ano passado, em um hospital público do Recife. Era um bebê grande, com a pele bem branquinha e cabelos pretos. Logo após o parto, recebeu a sentença que a jogou no epicentro da crise de saúde pública que o Brasil vive hoje.

O perímetro de sua cabeça media menos do que 33 centímetros. Maria Vitória tem microcefalia. A mãe – desempregada que já cria um filho deficiente – decidiu entregá-la para adoção ainda na gravidez. Deixou a bebê aos 13 dias de idade nos braços de uma funcionária na porta de um abrigo de órfãos. Logo a menina ganhou fraldas e uma pilha de roupinhas. Atenta e dengosa, virou o xodó da instituição.

Toma leite em pó na mamadeira com avidez, chora muito, e alto, quando quer colo e espera, em um berço cor-de-rosa, uma família que a leve para casa.

A relação entre o aumento de casos de bebês com microcefalia no Brasil e a infecção pelo vírus zika foi provada pelo Ministério da Saúde. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças Transmissíveis dos Estados Unidos reconheceu a ligação com base em um amplo estudo internacional. Já se sabia da ligação entre outros vírus, citomegalovírus e doenças como rubéola, sífilis e toxoplasmose com a má-formação.

O neuropediatra Gustavo Valle conta que a maior parte dos bebês que nasce com a doença costuma ter problemas motores, visuais, auditivos, déficit intelectual e epilepsia. “A expectativa de vida varia: há tanto casos de adultos idosos com microcefalia como de crianças que não passam dos 3 anos”, afirma o médico.

Ao sair do hospital com Miguel, a baiana Aureni ouviu um alerta preocupante. “Me disseram para ter consciência de que ele não viveria muito”, conta. “Todos os dias olho para o Miguel e penso nisso. Faço tudo o que posso para que seja independente, consiga respirar, comer, andar e falar sozinho. Mas meu maior sonho, na verdade, é de que ele chegue à vida adulta”.

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