Em estudo publicado na edição de fevereiro da
revista do Centro para Controle e Prevenção de Doenças, ligada ao governo
americano, uma equipe de pesquisadores brasileiros sugere que os dados oficiais
sobre casos de dengue no Brasil são subnotificados.
Os pesquisadores estimam que de cada 12 casos de
dengue, apenas 1 entrou para os boletins oficiais de registro da doença do
governo federal no período analisado.
Segundo o estudo, a discrepância é ainda maior nos
meses em que a transmissão do vírus é baixa: de cada 17 diagnósticos feitos
pelos cientistas, apenas 1 foi relatado ao governo nesse período.
O grupo chegou a esta conclusão após analisar 3,8
mil casos de pacientes que deram entrada em uma unidade pública de saúde em
Salvador (BA), entre janeiro de 2009 e dezembro de 2011, com relato de febre
alta, um dos sintomas da dengue.
Após fazer dois testes de sangue com quinze dias de
diferença em cada participante, os pesquisadores detectaram o vírus da dengue
em 997 casos. No entanto, desse montante, apenas 57 foram registrados no
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do Ministério da Saúde.
Ou seja, menos de 6% dos casos de dengue entraram no radar do governo
federal.
Pior, dos mais de 70% casos cujo teste para dengue
deu negativo, 26 foram reportados ao ministério da saúde como portadores da
doença.
A pista para tanta discrepância pode estar na
maneira como os diagnósticos são fechados no Brasil, segundo relato do
coordenador do estudo, Guilherme de Sousa Ribeiro, professor da Universidade
Federal da Bahia e pesquisador da Fiocruz.
Exames laboratoriais não são obrigatórios para
determinar se uma pessoa está com dengue ou não – tanto que de cada quatro participantes
da pesquisa que relataram febre, apenas um foi submetido a exames laboratoriais
para além dos oferecidos pela pesquisa.
“A subnotificação de casos de dengue tem sido
atribuída à detecção passiva de casos, que falha ao identificar pessoas que não
buscam cuidados médicos. Nós mostramos que a supervisão também falha ao
detectar casos de dengue em pacientes sintomáticos que buscam ajuda médica”,
afirma o estudo.
Entre as medidas propostas pelo grupo para reduzir
a subnotificação está aplicar o teste rápido de dengue em todos os pacientes
com os sintomas – método ainda não disponível em toda rede pública.
“Diante da recente emergência dos vírus Zika e
Chikungunya, melhorias na supervisão e nos diagnósticos laboratoriais são
necessárias para prevenir erros de classificação e de gerenciamento dos casos”,
afirma o texto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário