Um
pesquisador de um laboratório da Indonésia estende os braços dentro de caixas
de plástico transparente cheias de mosquitos, e ao longo dos 20 minutos
seguintes pequenas bolhas surgem em sua pele à medida que ele recebe dezenas de
picadas.
A
"alimentação" voluntária, na qual os pesquisadores se alternam, é
parte de um programa da cidade de Yogyakarta para tentar eliminar doenças
transmitidas por mosquitos, como a dengue e o vírus da zika --ou assim esperam
os cientistas diante do aumento dos temores sobre o surto de zika na América
Latina e no Caribe.
Os
mosquitos carregam uma bactéria chamada Wolbachia, que os cientistas
introduziram em gerações anteriores, e mais tarde serão liberados para cruzarem
com mosquitos selvagens. A Walbachia pode atuar como uma vacina para o
Aedes, bloqueando a multiplicação do vírus dentro do inseto ao ser inoculado no
mosquito.
À
medida que se dissemina de um inseto para outro, a bactéria reduz a
possibilidade de os mosquitos transmitirem o vírus da dengue para humanos.
Resultados
iniciais sobre o impacto do experimento na disseminação da dengue incentivaram
cientistas indonésios e australianos a ampliarem o programa e incluir o zika.
"Já
temos indícios em nossos laboratórios de que o método que refreia o poder da
dengue de se desenvolver no mosquito também funciona com o zika vírus",
afirmou Scott O'Neill, diretor do Programa Elimine a Dengue (EDP, na sigla em
inglês) à Reuters, acrescentando que a pesquisa aguarda análises de seus pares
na comunidade científica.
Ainda
pouco se conhece sobre zika, inclusive se o vírus causa má-formação craniana.
No
dia 1º de fevereiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o Zika uma
emergência de saúde pública mundial, afirmando "suspeitar fortemente"
de uma ligação entre a presença do vírus em gestantes e a má-formação craniana
conhecida como microcefalia. Não existe tratamento nem vacina para a doença, e
a OMS recomendou limitar a exposição humana aos mosquitos.
O
número de casos de dengue em uma instalação de testes de Yogyakarta onde o
método da bactéria foi utilizado diminuiu de 10 em 2015 para somente 1 este
ano, mas ele ainda não demonstrou resultados conclusivos fora dos laboratórios.
"Não
acredito que exista uma única solução mágica", opinou Adi Utarini, que
lidera a pesquisa indonésia. "A nova tecnologia que trazemos não foi
concebida para substituir todas as atividades existentes... a prevenção é muito
importante".
Financiado
em parte pela Fundação Bill and Melinda Gates, o EDP também está testando seus
métodos no Vietnã, mas eles estão em seu estágio mais avançado na Indonésia,
país tropical que tem o segundo maior índice de casos de dengue, só atrás do
Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário