sábado, 22 de novembro de 2014

Fiocruz alerta que controle da dengue precisa ser revisto


Com o verão, pancadas de chuva e alta temperatura são motivos conhecidos para redobrar a atenção em relação à dengue, principalmente diante dos novos dados do Levantamento Rápido do Índice de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) do Ministério da Saúde, que revelaram que 135 municípios brasileiros estão em situação de risco para a ocorrência de epidemias da doença. Além disso, um estudo realizado pela Fiocruz e publicado no Boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a necessidade de mudança nas estratégias de controle da dengue.

O artigo apontou que as medidas recomendadas pelo Programa Nacional de Controle da Dengue não foram suficientes para conter a disseminação do vírus tipo 4, detectado na cidade de Boa Vista, em Roraima, em 2010.

Analisamos uma situação em que todas as ações foram realizadas de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, que segue as recomendações da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e da OMS. Mesmo assim, o impacto sobre a infestação de mosquitos Aedes aegypti foi pequeno - afirma Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus da Fiocruz e uma das autoras do trabalho. - Esse é um exemplo contundente de que é preciso refletir sobre quais são as melhores práticas de controle.

O grande perigo da disseminação do vírus tipo 4 era, segundo Valle, que, na época do estudo, já circulavam os três sorotipos do vírus da dengue no Brasil. Todos causam a mesma doença, mas são percebidos de forma diferente pelo sistema imune. Assim, quando uma pessoa é infectada por um deles, fica protegida em futuros contatos com aquele mesmo sorotipo. No entanto, a mesma ainda pode ter dengue, caso seja infectada por outro sorotipo. Nesse contexto, se o o sorotipo 4 se espalhasse, toda a população do Brasil estaria suscetível e uma grande epidemia poderia ocorrer, colocou a pesquisadora.

Vistorias para eliminar criadouros das formas imaturas do inseto foram realizadas em todas as casas de 22 dos 31 distritos da cidade, recobrindo uma área onde estão concentrados 75% da população. Ao todo, 56.837 imóveis foram inspecionados por agentes de saúde. Os profissionais removeram objetos que poderiam acumular água e aplicaram larvicidas, produtos químicos para matar as larvas do mosquito nos reservatórios que não poderiam ser eliminados. O trabalho foi acompanhado, ainda, pelo uso de carros para pulverizar inseticida nas ruas, com o objetivo de matar os mosquitos adultos. Mesmo com todos esforços, o índice de infestação calculado pelo LIRAa caiu apenas 0,33 pontos percentuais, de 1,7% para 1,37%, permanecendo acima do 1% considerado perigoso pela OMS.

A principal mudança após as ações foi, portanto, negativa: o aumento da resistência dos mosquitos aos inseticidas, conforme observaram os pesquisadores.

A chamada “razão de resistência” dobrou após três meses e triplicou após seis meses. Assim, um semestre após as ações de combate ao mosquito terem sido intensificadas, seria necessário usar uma concentração de inseticida três vezes maior para matar a mesma quantidade de mosquitos.

Isso ocorreu por muitas questões. Uma é que tem muita confusão do controle do vetor e o controle químico do vetor. O controle do vetor é diminuir a quantidade do mosquito e o meio mais eficaz é o controle mecânico, ou seja, simplesmente eliminar as fontes que podem servir de criadouros, não dando a chance de virar adulto. Já o controle químico é feito pelo uso de inseticida e dá a falsa sensação de proteção, eliminando somente aqueles que não têm resistência e criando vantagem para os que têm - explica e complementa que é “muito mais difícil cuidar do adulto do que da larva, que está circunscrita em um determinado espaço”.

Menos de um ano após a identificação em Boa Vista, já havia registro de casos do sorotipo 4 em nove estados e, em 2012, alcançou 22 das 27 unidades da federação, segundo dados do Ministério da Saúde. No verão de 2013, este foi o vírus mais frequente no país, causando epidemias em diversas regiões.

Para Valle, o mais importante é que haja uma mudança de conduta, ou seja, é preciso tirar a responsabilidade do inseticida e apostar mais no controle do vetor. Além disso, a pesquisadora sugere que se compartilhe o compromisso do agente de saúde com a sociedade toda.

Assim como escovamos os dentes todo dia e não só quando temos cárie, temos que fazer a prevenção do mosquito semanalmente. De ovo para adulto leva de sete a dez dias, se cada um fizer sua parte podemos diminuir o número de criadouros da larva - conclui.

Outra preocupação crescente é o vírus chikungunya, transmitido pelo Aedes aegypti e pelo Aedes albopictus. Até o dia 25 de outubro, 828 casos de infecção foram registrados no Brasil - desses, 299 são casos autóctones.

Os casos suspeitos de febre chikungunya são de notificação imediata, que deve ser feita pelo município ao Estado em até 24 horas a partir da suspeita inicial.

Fonte: o globo.

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