
O artigo apontou que as medidas recomendadas pelo Programa Nacional de Controle da Dengue não foram suficientes para conter a disseminação do vírus tipo 4, detectado na cidade de Boa Vista, em Roraima, em 2010.
Analisamos uma situação em que todas as ações foram realizadas de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, que segue as recomendações da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e da OMS. Mesmo assim, o impacto sobre a infestação de mosquitos Aedes aegypti foi pequeno - afirma Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus da Fiocruz e uma das autoras do trabalho. - Esse é um exemplo contundente de que é preciso refletir sobre quais são as melhores práticas de controle.
O grande perigo da disseminação do vírus tipo 4 era, segundo Valle, que, na época do estudo, já circulavam os três sorotipos do vírus da dengue no Brasil. Todos causam a mesma doença, mas são percebidos de forma diferente pelo sistema imune. Assim, quando uma pessoa é infectada por um deles, fica protegida em futuros contatos com aquele mesmo sorotipo. No entanto, a mesma ainda pode ter dengue, caso seja infectada por outro sorotipo. Nesse contexto, se o o sorotipo 4 se espalhasse, toda a população do Brasil estaria suscetível e uma grande epidemia poderia ocorrer, colocou a pesquisadora.
Vistorias para eliminar criadouros das formas imaturas do inseto foram realizadas em todas as casas de 22 dos 31 distritos da cidade, recobrindo uma área onde estão concentrados 75% da população. Ao todo, 56.837 imóveis foram inspecionados por agentes de saúde. Os profissionais removeram objetos que poderiam acumular água e aplicaram larvicidas, produtos químicos para matar as larvas do mosquito nos reservatórios que não poderiam ser eliminados. O trabalho foi acompanhado, ainda, pelo uso de carros para pulverizar inseticida nas ruas, com o objetivo de matar os mosquitos adultos. Mesmo com todos esforços, o índice de infestação calculado pelo LIRAa caiu apenas 0,33 pontos percentuais, de 1,7% para 1,37%, permanecendo acima do 1% considerado perigoso pela OMS.
A principal mudança após as ações foi, portanto, negativa: o aumento da resistência dos mosquitos aos inseticidas, conforme observaram os pesquisadores.
A chamada “razão de resistência” dobrou após três meses e triplicou após seis meses. Assim, um semestre após as ações de combate ao mosquito terem sido intensificadas, seria necessário usar uma concentração de inseticida três vezes maior para matar a mesma quantidade de mosquitos.
Isso ocorreu por muitas questões. Uma é que tem muita confusão do controle do vetor e o controle químico do vetor. O controle do vetor é diminuir a quantidade do mosquito e o meio mais eficaz é o controle mecânico, ou seja, simplesmente eliminar as fontes que podem servir de criadouros, não dando a chance de virar adulto. Já o controle químico é feito pelo uso de inseticida e dá a falsa sensação de proteção, eliminando somente aqueles que não têm resistência e criando vantagem para os que têm - explica e complementa que é “muito mais difícil cuidar do adulto do que da larva, que está circunscrita em um determinado espaço”.
Menos de um ano após a identificação em Boa Vista, já havia registro de casos do sorotipo 4 em nove estados e, em 2012, alcançou 22 das 27 unidades da federação, segundo dados do Ministério da Saúde. No verão de 2013, este foi o vírus mais frequente no país, causando epidemias em diversas regiões.
Para Valle, o mais importante é que haja uma mudança de conduta, ou seja, é preciso tirar a responsabilidade do inseticida e apostar mais no controle do vetor. Além disso, a pesquisadora sugere que se compartilhe o compromisso do agente de saúde com a sociedade toda.
Assim como escovamos os dentes todo dia e não só quando temos cárie, temos que fazer a prevenção do mosquito semanalmente. De ovo para adulto leva de sete a dez dias, se cada um fizer sua parte podemos diminuir o número de criadouros da larva - conclui.
Outra preocupação crescente é o vírus chikungunya, transmitido pelo Aedes aegypti e pelo Aedes albopictus. Até o dia 25 de outubro, 828 casos de infecção foram registrados no Brasil - desses, 299 são casos autóctones.
Os casos suspeitos de febre chikungunya são de notificação imediata, que deve ser feita pelo município ao Estado em até 24 horas a partir da suspeita inicial.
Fonte: o globo.
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