
Assentada à beira do rio São Francisco, na
fronteira entre Pernambuco e Bahia, Juazeiro já foi uma cidade cortada por
córregos, afluentes de um dos maiores rios do País. Hoje, tem mais de 200 mil
habitantes, compõe o maior aglomerado urbano do semiárido nordestino ao lado de
Petrolina – com a qual soma meio milhão de pessoas – e é infestada por
muriçocas (ou pernilongos, se preferir). Os cursos de água que drenavam pequenas
nascentes viraram esgotos a céu aberto, extensos criadouros do inseto,
tradicionalmente combatidos com inseticida e raquete elétrica, ou janelas
fechadas com ar condicionado para os mais endinheirados.
Mas os moradores de Juazeiro não espantam só
muriçocas nesse início de primavera. A cidade é o centro de testes de uma nova
técnica científica que utiliza Aedes
aegypti transgênicos para combater a dengue, doença transmitida
pela espécie. Desenvolvido pela empresa britânica de biotecnologia Oxitec, o
método consiste basicamente na inserção de um gene letal nos mosquitos machos
que, liberados em grande quantidade no meio ambiente, copulam com as fêmeas
selvagens e geram uma cria programada para morrer. Assim, se o experimento
funcionar, a morte prematura das larvas reduz progressivamente a população de
mosquitos dessa espécie.
Na biofábrica montada no município e que tem
capacidade para produzir até 4 milhões de mosquitos por semana, toda cadeia
produtiva do inseto transgênico é realizada – exceção feita à modificação
genética propriamente dita, executada nos laboratórios da Oxitec, em Oxford.
Larvas transgênicas foram importadas pela Moscamed e passaram a ser
reproduzidas nos laboratórios da instituição.
Os testes desde o início são financiados pela
Secretaria da Saúde da Bahia – com o apoio institucional da secretaria de
Juazeiro – e no último mês de julho se estenderam ao município de Jacobina, na
extremidade norte da Chapada Diamantina. Na cidade serrana de aproximadamente
80 mil habitantes, a Moscamed põe à prova a capacidade da técnica de “suprimir”
(a palavra usada pelos cientistas para exterminar toda a população de
mosquitos) o Aedes aegypti em toda
uma cidade, já que em Juazeiro a estratégia se mostrou eficaz, mas limitada por
enquanto a dois bairros.
“Os resultados de 2011 e 2012 mostraram que (a técnica) realmente funcionava
bem. E a convite e financiados pelo Governo do Estado da Bahia resolvemos
avançar e irmos pra Jacobina. Agora não mais como piloto, mas fazendo um teste
pra realmente eliminar a população (de mosquitos)”,
fala Aldo Malavasi, professor aposentado do Departamento de Genética do
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e atual presidente
da Moscamed. A USP também integra o projeto.
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