Cientistas descobriram uma ligação genética entre o
mosquito hospedeiro e o vírus da dengue que determina a transmissão da doença.
Com o resultado, a pesquisa feita por franceses e tailandeses pode criar
métodos para interromper o ciclo de contaminação no seu início e, assim,
diminuir os casos de dengue.
O estudo feito pelo Instituto de Pesquisas de
Ciências Médicas das Forças Armadas (Afrims), em Bangkok, juntamente com o
Instituto Pasteur, em Paris, revelou que os mosquitos são sensíveis a uma
determinada estirpe do vírus e, ao mesmo, tempo resistente a outras. Os
cientistas esperam que a descoberta leve a novos medicamentos para controlar a
dengue e, no futuro, a produção de mosquitos transgênicos mais resistentes ao
vírus.
"Apesar de termos algumas indicações de que
essas interações genéticas ocorrem, elas nunca foram mapeadas nos cromossomos
do mosquito. Portanto, ainda temos uma vaga ideia de onde essas interações
específicas estão fisicamente localizadas", diz Louis Lambrechts, um dos
pesquisadores responsáveis.
O Afrims criou 20 mil fêmeas do mosquito por semana especialmente para a pesquisa. Diferente do mosquito transmissor da malária, o aedes aegypti prefere as regiões urbanas e locais onde a água se acumula.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por
ano, mais de 100 milhões de pessoas no mundo são contaminadas com o vírus da
dengue. Essa doença é uma epidemia em mais de 100 países tropicais. Mas com as
mudanças climáticas e a globalização, ela começa aparecer em regiões de
temperaturas mais moderadas.
No Brasil, a última grande epidemia foi registrada
em 2010, com cerca de 4 mil municípios infestados. Os sintomas da dengue são
parecidos com o de uma gripe forte, porém com dores nos ossos e articulações que
duram semanas. Em 5% dos casos, o vírus pode ser mais perigoso e levar à morte.
O próximo passo do estudo é fazer um mapeamento dos
fatores genéticos que determinam a dengue em mosquitos. Lambrechts acredita que
a pesquisa irá ajudar outros cientistas a interromper completamente o início do
ciclo de transmissão da doença.
"Muitas estratégias consistem em interromper o
ciclo da dengue no hospedeiro humano, por exemplo, com o desenvolvimento de
vacinas e medicamentos. Mas outras pretendem interromper a transmissão no
inseto. Os nossos pesquisadores podem abrir novas perspectivas para essa
última", diz Lambrechts.
Contudo, para isso, é necessário a criação de
mosquitos transgênicos resistentes à doença. Essa ideia já está sendo
desenvolvida por uma empresa britânica. Mas ela é alvo de críticas devido à
insuficiência de pesquisas.
Como os atuais mosquitos estão ficando mais
resistentes a pesticidas, os governos estão mais abertos a ideias controversas.
"Muitos pesquisadores estudam o aspecto genético para o controle da
dengue, mas há muitos problemas. Em alguns países não é permitido a liberação
de mosquitos geneticamente modificados. E, mesmo se tivéssemos um bom modelo e
técnica, ainda demoraria cerca de 10 anos antes de podermos aplicá-la",
afirma Alongkot Ponlawat, um dos diretores de pesquisa do Afrims.
Outra ideia é o desenvolvimento de vacinas que
previnam não só pessoas de serem infectadas, mas também os mosquitos.
"Mosquitos se alimentam de sangue humano. Se uma vacina que bloqueia a
transmissão for criada e as pessoas forem tratadas com esse medicamento, você
pode interromper a transmissão do vírus do humano para os mosquitos",
afirma Lambrechts.
Nenhum comentário:
Postar um comentário