quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Bactéria pode atuar como “vacina” contra dengue



Primeiramente encontrada em 1924 no mosquito Culex pipiens, a Wolbachia pipientis é uma bactéria presente nas células de cerca de 70% dos insetos, desde borboletas ao pernilongo. O Aedes aegypti, vetor da dengue – considerada a mais importante doença viral transmitida por mosquitos no mundo –, pertence aos 30% de invertebrados que não têm a bactéria. Ou não tinham.

Pesquisadores descreveram, durante o 28º Congresso Internacional de Medicina Tropical, evento realizado no Rio de janeiro entre os dias 24 e 27 de setembro pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, como a Wolbachia pode atuar como uma “vacina” para o Aedes, bloqueando a multiplicação do vírus dentro do inseto ao ser inoculado no mosquito.

Cada cepa da bactéria é responsável por uma reação em seu hospedeiro. Há alguns anos, ao observarem que ela diminuía pela metade o tempo de vida da Drosophila (a mosca-das-frutas), cientistas do programa internacional “Eliminar a Dengue: Nosso Desafio”, liderados por Scott O’Neill, da Universidade de Monash (Melbourne, Austrália), demonstraram que a Wolbachia, se inoculada no Aedes aegypti, poderia também reduzir a longevidade do mosquito, diminuindo a sua capacidade de transmitir o vírus.

“Se o mosquito vivesse pela metade, ele teria menor chance de transmitir o vírus, já que esse precisa ficar incubado de oito a dez dias dentro do corpo do vetor. Então, pensamos que, se vivesse 15 em vez de 30 dias, o inseto morreria antes de se alimentar e de haver a incubação do vírus”, disse o entomologista molecular Luciano Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição brasileira parceira do projeto mundial.

“Mas, quando inoculamos a bactéria, ficamos surpresos ao ver que ela, além de diminuir o tempo de vida do mosquito, também fazia com que o vírus não se desenvolvesse”, disse.

“Agora, há uma nova cepa da bactéria que está sendo usada na Austrália e que não encurta a vida do inseto, mas apenas bloqueia o vírus. Então, a ideia de encurtamento da vida do mosquito já não é tão importante. O importante é o bloqueio do vírus”, disse Moreira.

Em 2008, Moreira se mudou para a Austrália e passou a trabalhar com a equipe de pesquisadores que desenvolviam o projeto no país. “A partir do momento que tivemos a linhagem de mosquitos com a bactéria, trouxemos os ovos para o Brasil e fizemos o cruzamento com as populações brasileiras de mosquitos, ainda mantidos em laboratório”, contou.

A soltura da nova linhagem de mosquitos na natureza deve ocorrer no começo de 2014, no Rio de Janeiro, escolhido por este ser o estado campeão de casos da doença e pela quantidade de mosquitos encontrada ao longo do ano inteiro. Na Austrália, os mosquitos com as bactérias já foram soltos. No Vietnã e na Indonésia, a soltura ocorrerá no ano que vem.

“Há um processo de preparação. Temos que trabalhar primeiro com as comunidades e informá-las sobre o projeto. Além disso, precisamos conhecer dados entomológicos sobre as populações de mosquitos locais”, explicou Moreira.

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