Na busca de uma vacina contra a dengue, a
pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Ada Alves sempre trafegou
na contramão de outros cientistas. Ela lidera, desde 2008, o único estudo no
mundo que combina duas estratégias de imunização contra a doença em uma mesma
vacina: a abordagem de vacina de DNA e o uso de um vírus quimérico de febre
amarela contendo genes de dengue. A proposta da vacina combinada, que inverte o
ditado popular ao usar duas cajadadas para acertar o mesmo coelho, tem patentes
depositadas em dez países, incluindo o Brasil e a União Europeia. Estudos
realizados com camundongos comprovaram que o uso conjugado das duas técnicas
conseguiu proteger 100% dos animais testados. Em 2015, serão iniciados os
experimentos com primatas.
As vacinas contra a dengue atualmente em
desenvolvimento enfocam o processo de produção de anticorpos como alvo de
atuação. Os dados publicados até o momento, porém, têm demonstrado limitações
destas abordagens, que envolvem grupos de pesquisa em diversos países. Ada
explica que os obstáculos para alcançar a vacina ideal podem estar relacionados
à própria dinâmica da doença.
“No caso da dengue, não são apenas os anticorpos os
responsáveis por proteger a pessoa infectada: há outras proteínas envolvidas no
processo, que atuam na mediação das respostas do organismo no nível celular. No
entanto, os projetos de vacinas que hoje estão em etapas mais adiantadas
apostam, principalmente, na resposta de anticorpos”, explica a chefe do
Laboratório de Biotecnologia e Fisiologia de Infecções Virais do IOC. Outro
desafio é que uma vacina contra dengue precisa imunizar simultaneamente contra
todos os sorotipos do vírus, pois a cada nova infecção aumentam as chances de
quadros graves.
Para uma doença complexa, a saída seria produzir
uma vacina igualmente complexa. “Nosso objetivo é provocar uma resposta de
anticorpos associada a uma resposta de nível celular de amplo espectro”, pontua
Ada. A proposta soma duas tecnologias, associando uma vacina de vírus quimérico
a uma vacina de DNA. Elas atuam de formas diferentes, mas têm em comum o uso da
engenharia genética em seu processo de produção. Para entender como este mix
funciona, é preciso ter em mente o conceito fundamental de uma vacina: provocar
uma proteção contra agentes causadores de doenças, de forma que, num possível
contato, o organismo reaja como se já soubesse o que deve fazer para se
blindar.
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