segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Surto de dengue na Madeira podia ter sido evitado



O virologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical Jaime Nina afirmou esta segunda-feira que o surto de dengue na Madeira podia ter sido minimizado, se o Governo regional tivesse ligado aos múltiplos avisos, feitos desde 2005, por várias entidades.

Jaime Nina disse à agência Lusa que o mosquito Aedes aegypti foi detectado na Madeira, em 2005. Desde essa altura, há, pelo menos, uma dúzia de relatórios de entidades, quer locais, quer nacionais, nomeadamente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge [INSA] e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, a dizer que se deve combater o mosquito, um vetor potentíssimo de uma série de doenças humanas.

Foi no encontro Biossegurança: Doenças Infeciosas, uma potencial ameaça biológica, em Lisboa, que o virologista acusou o Governo Regional da Madeira de ter ignorado os avisos e ter dado prioridade a outras tarefas, o que consequentemente originou um surto de dengue.

O especialista em doenças tropicais lembrou que um dos grandes perigos das doenças infeciosas é serem vítimas do seu próprio sucesso.

Jaime Nina explicou no workshop do INSA que um dos erros frequentes que os decisores políticos cometem é pensar que uma certa doença está controlada, porque está a haver uma diminuição do número de casos, cortando precocemente as verbas para o controlo dessa doença.

Foi neste contexto que Jaime Nina deu o exemplo do dengue na Madeira, que, segundo o último balanço, feito na quarta-feira pelo Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais da Madeira, apontava para a existência de 52 casos confirmados, na região, e 404 casos suspeitos.

Além do exemplo da Madeira, Jaime Nina apontou outros casos, como o que está a acontecer no estado norte-americano da Flórida, que «está a ter o pior surto de tuberculose do último meio século, nos Estados Unidos».

A insensibilidade política é de tal ordem, que o governo estadual decidiu cortar cerca de 25% da verba de combate à tuberculose, e fechado hospitais, quando há um surto da tuberculose multirresistente a decorrer, lamentou.

Jaime Nina diz que isto acontece porque há uma conversa de surdos entre a parte política e a parte sanitária», o que, segundo ele, tem custos elevados».

Estes dois casos não são únicos. O virologista deixou ainda o exemplo do sarampo, em França: Deixaram decair a taxa de cobertura vacinal contra o sarampo, e agora tiveram este surto com mais de 30 mil casos e um milhar de crianças com encefalia do sarampo.

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