O reino
animal está cheio de “meninas más”. A fêmea do louva-a-deus devora a
cabeça do macho depois de acasalar. O macho da viúva negra vira um nutritivo
petisco para sua aranha, depois de morrer ao ter seu órgão sexual quebrado no
corpo da fêmea. A vingança dos machos, mesmo que involuntária, veio de uma
variedade do mosquito Aedes Aegypti, transmissor do vírus da dengue.
Desde
fevereiro de 2011, a biofábrica Moscamed produz em Juazeiro, com uma tecnologia
desenvolvida pela empresa inglesa Oxitec, mosquitos machos que, soltos para
cruzarem com fêmeas da natureza, geram descendentes que não conseguem
sobreviver. Nesse período, a estratégia conseguiu reduzir, em média, 85% da
população do Aedes Aegypti em Itaberaba, bairro juazeirense onde o projeto foi
testado.
Como eles são idênticos aos mosquitos selvagens, atraem as fêmeas normalmente. A diferença está em um gene, introduzido nos embriões gerados nos laboratórios da Moscamed, conforme explica o doutor em genética Aldo Malavasi, professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do Projeto Aedes Transgênico (PAT).
“É um gene que faz com que, para que o mosquito complete o desenvolvimento larvário, seja necessária a presença de tetraciclina”, detalha Malavasi. Como a substância, um antibiótico produzido a partir de bactérias Streptomyces, não está disponível na natureza, o inseto morre ainda na fase larvária – etapa que é combatida, nas campanhas contra a dengue, com a eliminação de fontes de água parada e limpa.
“Os machos criados em laboratório sobrevivem porque acrescentamos tetraciclina na água onde eles são cultivados”, descreve. Também é introduzido no vírus um marcador genético fluorescente, que identifica as larvas transgênicas. “Quando o ministro viu, ele disse: ‘Que bonito’”, conta Malavasi, referindo-se ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
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