Ao menos uma batalha foi vencida: cientistas de
Singapura e dos EUA conseguiram mostrar que um anticorpo, chamado 2D22, é capaz
de combater o vírus tipo 2 (DENV2) da dengue e sua aplicação pode até mesmo
tratar (em roedores) a doença, que até hoje não tem cura (por isso os mosquitos
que transmitem a dengue são combatidos). O trabalho científico foi publicado na
quinta-feira (2) na revista científica 'Science'.
Há quatro tipos de vírus da dengue DENV1, DENV2,
DENV3 e DENV4 e o 2D22 combate eficientemente apenas o DENV2. O grande
desafio que os pesquisadores enfrentaram foi compreender a estrutura do DENV2
peculiar em comparação aos outros tipos e descobrir como ocorre a ligação do
anticorpo 2D22 a ele.
No corpo humano, o vírus está a 37ºC, no mosquito,
a 25ºC, e na geladeira ficaria a 4ºC. Em cada temperatura, a organização
geométrica do vírus muda, expondo ou não seu calcanhar-de-Aquiles. O anticorpo
é capaz de se ligar bem ao vírus em todas essas situações e consegue tanto
neutralizá-lo após a infecção quanto evitar a doença se administrado
anteriormente.
Em 2015, as infecções pelo DENV2 no Brasil
representam apenas 1% do total. O mais predominante é o DENV1 (93,1%) seguido
do DENV4 (5,6%) e por último o DENV3 (0,3%). Esses números, no entanto, variam
ano a ano (a cada epidemia) e por local.
Há empresas farmacêuticas interessadas em testar o
anticorpo 2D22 em humanos, diz à Folha James Crowe, da Universidade Vanderbilt,
no Tennessee, um dos líderes da pesquisa.
O grupo, por sua vez, estaria empenhado em
encontrar anticorpos que sejam tão poderosos quanto para neutralizar os demais
tipos do vírus. No entanto, até o lançamento de uma possível droga 'levaria
anos', diz Crowe.
A vacina contra a dengue mais próxima de ser
lançada, da empresa Sanofi, tem a eficácia mais baixa justamente contra o
DENV2, apesar de, segundo a diretora médica da Sanofi, Sheila Homsani, dela
também ser capaz de produzir os mesmos anticorpos 2D22 no organismo.
O perigo da vacina, segundo a pesquisadora Shee-Mei
Lok, da Universidade Nacional de Singapura, que liderou com Crowe o estudo do
2D22, seria a chance de aumento da capacidade de infecção do vírus justamente
por conta da ligação ineficiente de anticorpos a ele. 'Poderia piorar a doença
de pessoas que tenham recebido a vacina, quando a pessoa fosse infectada pelo
DENV2 que circula naturalmente.'
'Mas deve ser notado que esse fenômeno ainda não
foi observado nos estudos de vacinação feitos até agora', diz
Crowe. Homsani reconhece a importância do estudo do anticorpo e afirma
que, apesar da proteção de 42,3% contra a infecção por DENV2 (e 60,8% de
proteção global ), a vacina da Sanofi reduziu 95% de redução nos casos graves
da doença, além de ter diminuído o número de internações.
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