“Dengue mata”. Usada para alertar a
população, essa frase, por vezes, não passa de um argumento retórico diante dos
frios números de “notificação de óbito” causada pela doença. Mas tudo
muda quando a morte transforma de forma palpável a rotina da Vida, de sua
família e de uma comunidade.
Com apenas quatro anos de idade, Vida Von Nek
perdeu sua irmazinha “Sol”, de apenas oito meses, para a dengue em março
passado. Com o choque, a comunidade de Vila de Ponta Negra resolveu
organizar “Um dia de Sol”, um evento que buscou conscientizar cidadãos para as
práticas já tão conhecidas de combate à dengue.
A escola, a igreja e várias outras entidades
entraram em campo nessa luta. Juntos, eles chegaram até a semear uma
planta que ajudar nesse combate. Ao lado do poder público, os cidadãos tem
tentado mudar a realidade da Vila de Ponta Negra, que ano passado chegou a ser
o terceiro no ranking de bairros com mais casos de dengue em Natal, com 245
notificações suspeitas da doença.
Quase dois meses se passaram desde que Solange morreu por causa da dengue. Ainda hoje é difícil para a família falar sobre o assunto. Vida, a única irmã, ainda não se adaptou bem a não poder mais ajudar a mãe a trocar a fralda e decorar histórias para contá-las para a irmã na hora de dormir.
A pequena de quatro anos já demonstra a
saudade do seu jeito. “Eu explico que ela está no céu. Aí ela diz, ‘vamos pegar
um avião para pegar ela’. Quando eu falo ‘ela é um estrela agora’, aí Vida
responde ‘então, quero um telescópio para ver’”, comenta Ryan Von Nek, mãe de
Vida.
A publicitária holandesa de 39 anos saiu da
Europa há dois anos para morar unir sua família. Vida inclusive nasceu na
Holanda e só se comunica com a mãe na língua dos países baixos. O pai, o
natalense Paulo Henrique Gomes, professor de Stand Up Pedal, só pode fazer
visitas periódicas.
As regras restritivas de imigração da Holanda
o impediam de morar no lugar, mesmo oficialmente casado com uma holandesa nata.
“Eu fiquei dois anos cuidando de Vida sozinha, mas aí eu disse ‘não’. Eu quero
que ela cresça com o pai também. Aí deixei tudo para trás, deixei meu
trabalho, meus amigos, minha família lá e vim para cá, juntar minha
família e até aumentar”, contou.
A filha caçula do casal começou a ter febre alta num domingo e morreu no dia 25 de março deste ano numa quarta-feira. Ryan se ressente do atendimento na unidade de saúde que procurou. Os médicos deram vários diagnósticos diferentes. Agora, uma amostra do sangue da menina está sob investigação, mas a grande suspeita é de dengue hemorrágica.
Depois da tragédia familiar eles mudaram de casa. “Onde a gente morava tinha um terreno com restos de material de construção, que tinha barata, aranha grande e até escorpião que uma vez eu encontrei perto do berço”. Segundo Ryan, eles já tomavam cuidados contra a dengue e agora entram na luta publicamente mobilizando a comunidade.
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